Lembrei quando cheguei na sua casa pra um café depois do almoço. Duas caipirinhas de caju com limão pra cada, e um peixe nota 6.
Explicou a hierarquia e as torras, disse que prefere coado e que para extrair um bom café, ajuda "dá uma molhadinha no filtro de papel assim, ó", enquanto a água escorria em círculos pequenos, e uma das mãos ia à cintura. Perguntou, uma ou duas vezes, se gostei mesmo do café.
Vasculhei seus livros com os olhos, e ri ao descobrir, que acredita na cura das plantas com as músicas que agora acompanham minha rotina. Me falou de astrologia (inclusive, reforçando tudo de ruim que envolve a personalidade dos aquarianos), à inclinação do irmão para travessuras que o transformou em Denis, o pimentinha.
Almofada no colo, protegendo seus limites.
Muito assunto pra dois desconhecidos colocarem em dia - pensei; enquanto equilibrava entre escutar com atenção, fingindo que já não queria lhe roubar o coração pra pendurar na parede de minha sala.
Compartilhamos desventuras, me indicou terapia pra aprender a falar dos meus sentimentos, enquanto me olhava lá do canto do sofá, com seu próprio berliner mauer no colo, e eu, tal como um dissidente, com medo de atravessar.
"Posso?" - antecipou o beijo.
E de lá pra cá, é assim que o amor me sugere uma casa cheia de risadas de criança, cheiro de café, os maiores sucessos de Kelvis Durant dançados na sala, uma ou duas taças de vinho, você numa pijama furta-cor à meia luz sobre mim, numa poltrona de designer. A boca mordida e pedidos que apesar de razoáveis, visivelmente não queria que acatasse. A pele e saliva se misturando na cama. Tinha encontrado o conforto de um amor leve, despreocupado, com gosto de café moído e coado na hora, e aconchego no sofá, como se as coisas acontecessem assim pros pessimistas. Sim, o meu amor tem que ir embora. Mesmo que, no meu altar de egoísmo, quisera que ela ficasse pra gente esquecer do tempo embrulhados com o corpo um do outro. Viver sem sakê com gosta de sidra, ou suas mensagens que nunca começam com letras maiúsculas. Ou permanecer desconhecendo os monumentos pernambucanos mais antigos e a graça que você vê em Boa Viagem. E daquela incerteza que envolvia não decifrar o que seus olhos querem dizer, mesmo que meu coração queira antecipar, toda vez que gente tá deitado na cama: "você já notou que eu amo você?".
Pronto, obrigado, e bom dia.
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